sábado, 26 de maio de 2012

Amor de uma tonelada


É mais do que eu pensava e menos do que eu precisava. Uma paixão mais ou menos que me faz sofrer, se é que existe paixão mais ou menos. Acho que existe, sim. Ela te leva ao topo do mundo e te derruba logo em seguida, como se você se aventurasse numa montanha russa. Eu nunca estive numa montanha russa, apenas visitei a paixão mesmo. Amor, paixão, pode-se dizer qualquer coisa sobre isso, que há diferenças, mas para mim o que importa em tudo é que há um eu e um outro em qualquer caso, e é aí que a confusão começa. Quero trazer o outro pra minha vida, pro meu jeito de ser. Quero aceitá-lo em mim, tê-lo por perto, possuí-lo. E espero o mesmo querer da outra parte. As expectativas que crio são tão imensas, impossível não querer o mundo todo e mais a Lua que orbita o planeta. Querer pouco é falta de perspectiva. Eu quero tudo. Mas, como é de se esperar no clichê da minha vida sentimental, quando eu quero demais, não sou querido. Quase visualizo isso como regra do meu batimento cardíaco. Quase, porque em algum momento isso não ocorreu, em outras relações, que agora são passado e por isso não são mais interessantes. Olhar para trás não é repetir o que já fiz, ou dizer de novo o que disse outra vez. Levar as experiências para a vida toda deve ser algo maior que isso, como estar disposto a viver algo novo de novo, sem pensar que já sei tudo como resolver.

É mais do que eu pensava porque eu tenho tanta vontade de grudar no abraço e no beijo na boca, que não me caibo em mim mesmo. E é menos do que eu precisava porque a participação do outro não é tão ativa. Me isolo em tanto sentimento, ilhado. Quando estudei linguística, aprendi que há níveis de leitura de um texto. Está lá nos manuais de semiótica francesa. A paixão deve ter níveis de leitura também, mas não tive acesso a esse tipo de teoria ainda, só fico na especulação. Primeiro nível: o eu ama o outro. Segundo nível: uma pessoa quer ficar junto com outra. Terceiro nível: o amor não é fácil. O grande problema é que me meter a especulador de teorias do amor não me faz melhor. Talvez eu me sinta melhor por traçar algumas ideias, por evidenciar o indecifrável mundo dos amantes, ainda que decifrar apenas aparentemente.

Não me importa se alguém vai ler isto. Ou, em lendo, se vai gostar. O imperativo é eu escrever, dizer, rascunhar as ideias, os sentimentos, as batidas do meu coração, que ainda não aprenderam a dançar, descompassadas que são. Teimoso como só ele, ainda vai insistir um pouco mais; pra que desistir tão fácil e achar que a paixão é impossível, de tanta dor que causa? Para os cristãos, todo o sofrimento de Jesus não é traduzido exatamente em amor? Por que, então, a dor da minha paixão será toda ruim sempre? Não sou Jesus, mas tenho dor. O meu sofrimento é outro, aquele do “amor não é fácil” que eu já citei e que me remete a Marisa Monte:

Não é fácil não pensar em você. É estranho não te contar meus planos. Não te encontrar todo dia de manhã, enquanto eu tomo meu café amargo...

Já disse meu poeta favorito, Marcelino Freire, que o amor deixa marcas inesquecíveis:

Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga. Na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca.

É isso. O amor vai embora e tudo que sobra são as lembranças, as frustrações e as palavras – as ditas e as pensadas, as não ditas e as ensaiadas.

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