domingo, 30 de junho de 2013

Um dia gris

Eu poderia ter um pouco mais de paciência, poderia por meu amor sobre a mesa, servi-lo quente mesmo. Até gostaria de fazê-lo acompanhado de uma música melosa, de uma bebida doce e com uma sobremesa cremosa ao final. Pois bem, não estou disponível para oferecer tal refeição, pois meu dia está gris, como o céu lá fora. Soa como um espelho: o céu e eu refletindo uma mesma imagem nesse dia nublado. Nada de desânimos ou sofrimentos à toa; trata-se apenas de um momento cinza sem horizontes bonitos para se admirar. Horizonte em que não quero chegar neste dia. Não se trata de uma tristeza, pois em meio a tanta vida, não há porque estar triste. É apenas o dia sem cor que se opõe ao vermelho do sangue bombeado pelo coração. Às vezes a pressão cai e o sangue meio que muda de coloração, tingido de cores opacas. Sem força para passar o dia e sem cor para brilhar, é como se o dia estivesse de olhos fechados.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Brincadeiras

O jogo da amarelinha
O céu, o inferno.
O quebra-cabeça
As peças não entram.
O esconde-esconde
Nunca te encontro.
O pega-pega
Nunca alcanço.

Que saco ser criança.

Ainda bem que cresci,
Vou brincar de médico.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Saída de emergência

Correntes nas pernas
prendendo o caminho,
impedindo a andança,
matando no ninho
a liberdade de outrora,
que tinha quando criança.
Só não conseguem prender
o olhar amarrando.
Ainda que sem amor,
sem mais nada pra viver,
o olhar sai do corpo
em busca do horizonte:
saída de emergência.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Segundo tempo

O relógio corre
E o tempo engole
É nada ou tudo
Você que escolhe.

Primeiro tempo

Eu apaguei o meu passado
Pra começar hoje
O meu futuro de ontem.
Eu deixei aquilo de lado
Pra correr atrás da vida
Que eu ainda não tive.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Fantasmas

Ela via fantasmas que queria reais.
Não sabia como curar a loucura.
Ao toque, sentia apenas o ar, nada mais.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Novos tempos

Isso não importa mais
O amor já se acabou
Não estou mais na sua
Eu só quero sorrir com o dia
Amanhecer com o sol
Preciso ver o entardecer
Sentir a Lua me olhar
Cheirar a brisa da noite
E descobrir que já passou
Que isso não importa mais
O amor mudou de flor
Deixou a lembrança
A semente de um novo dia
Que se inicia agora

domingo, 2 de junho de 2013

Muro do coração


Na correnteza da chuva, corria a tristeza de tudo que se perdia naquelas águas turvas e tortas. A chuva levava tudo embora, a paz, a alegria, o samba que ia surgindo no quintal, a roupa que secava no varal, a mochila das crianças que acabaram de chegar da escola, e as meias que estavam a secar no muro, que dividia não apenas os vizinhos, mas que compartilhava a segurança a que se propunha. E segurar as águas da chuva não era a obrigação daqueles tijolos sobrepostos. Águas para conter? Não era essa a função do muro. Ele segurava o que lhe cabia, mas não podia salvar vidas contra a correnteza que invadira todas aquelas vidas.
Às vezes o coração tem dessas coisas, nos deixa desprotegidos das correntezas inesperadas.

sábado, 1 de junho de 2013

Um novo olhar no anoitecer

É num olhar outro que visualizo essa nova perspectiva de mim. É na língua sentindo um gosto diferente que percebo meu paladar reagindo. É no toque da mão, na pele do lábio, que beijo uma experiência nova. Essa boca inédita, esse olhar que me fita, essa vida que insiste em piscar para mim, dizer que sou eu o escolhido. Escolhido. Recolhido. Sou eu quem espera um novo anoitecer pra você chegar.

A sobra da falta


Falta drama nessa lua
Falta riso nesse circo
Falta carinho nesse toque

Sobra dor nessa memória
Sobra ódio nas ruas
Sobra egoísmo nas vidas

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