Eu acho que fiz bem em sair
correndo aquele dia. Te deixei lá sozinho no parque quando começou a chover,
achei que era o momento certo, que a conversa havia terminado mesmo, e que a
chuva apenas selava o fim de tudo. Eu fiz bem, sim, porque não ia mais
conseguir ficar naquela discussão sem sentido, não havia mais desculpas que eu
pudesse dar, nem você. Ainda não crescemos como achamos que tivéssemos
crescido. Ah, a maturidade para ter uma relação, nunca ao alcance. Depois
daquela última briga na casa da sua mãe, logo após o almoço, antes do sorvete,
eu já tinha tomado a decisão de terminar o namoro. Aquele dia foi-se embora a
última gota da minha paciência, que andava junto com minha última esperança.
Tudo aconteceu muito rapidamente, um excesso de grosserias que trocamos, eu sei
que você não merecia ouvir tudo o que eu dissera, mas você sabe que sou
estourado, que as palavras saem antes mesmo de eu filtrá-las. Sim, mais uma
desculpa minha, mas você não é santo, você provocou aquilo, você me conhece,
sabia que eu reagiria. Acho que você calculou toda a provocação. E nem tomamos
o sorvete. E sua mãe deve me odiar por magoá-lo, por tê-lo tratado tão
rudemente na frente dela! Caramba, como sou burro! Quem maltrata no namorado na
frente da mãe dele? O burro esquentadinho aqui. E foi essa mesma burrice minha
que deixou o namoro acabar? Devo pedir mais desculpas? Não, isso não resolve
nada, né?! É mais um pouco daquela conversa mole que já te encheu, de que vou
mudar, de que foi por impulso, de que eu te amo de verdade... Mais desculpas
para a coleção gigantesca dos meus erros que nunca acerto, essa coleção que não
tem valor algum a não ser mostrar cada vez mais o acúmulo de decepções que
tenho sido para quem me ama. De toda forma, preciso pedir desculpas e dizer que
nunca quis magoá-lo. Não é um clichê que estou repetindo, é a verdade, não
quero te ver sofrer, nem quero eu fazê-lo sofrer mais. Sou covarde, por isso
acho que fiz bem em sair correndo aquele dia no parque. Estou envergonhado, de
verdade. Você sabe que sempre fui cara de pau e briguento, mas estou
envergonhado. E com remorso, com uma dor dentro de mim de tê-lo deixado partir,
como pude decidir antes do sorvete aquele dia que não queria mais nada com
você? Meu Deus! Me encho de culpa agora, e não digo isso para me fazer de
bonzinho, é arrependimento mesmo, é olhar para a vida e ver o que fiz de
errado... No entanto, agora nem adianta muito essa minha lamúria, eu sei. Não
adianta nada, na verdade... Olha, vamos tentar conversar de novo? Não estou
pedindo pra voltar, só preciso dizer como as coisas aconteceram pra mim e me
explicar, pedir perdão mesmo, precisamos zerar esse assunto. Eu sei que você
está sem tempo e sem vontade de ouvir o que tenho pra te dizer, e talvez até
ache que eu não tenho nada pra falar. Mas não seja radical comigo. Eu sei que
terminei tudo, que o fim do namoro já aconteceu, que o machucado já fiz em
você, mas preciso dessa última conversa sem fugir, sem sair correndo. Escuta,
será uma conversa rápida, eu nem vou falar muita coisa, você pode dizer tudo...
Eu quero seguir com a minha vida também, assim como você, por isso preciso
dessa chance de terminar direito o que começamos direito, ou vai negar que nos
apaixonamos lindamente desde o começo? Perdão, é o que preciso dizer. Me perdoa.
Eu não sabia que te amar demais me faria esse cara inseguro, eu deveria ter
confiado mais no amor que você teve por mim e ter sido um homem mais gentil,
deveria ter sido menos controlador e mais livre. Eu me engano e você sempre tem
razão. Eu não fiz bem em sair correndo aquele dia no parque. Eu deveria ter me
acalmado, te abraçado e pedido sua ajuda, ter pedido perdão e ter dito mais uma
vez que te amo.