domingo, 28 de julho de 2013

Oração de amor

Depois de tanto tempo aprisionado,

Maltrapido e maltratado,

Meu coração mudou de cor.

Não é mais vermelhinho como o de todo mundo.

Agora ele muda todo dia, fica azul,

Fica amarelo, vermelho, verde, roxo.

Meu coração mudou de lugar, mudou de forma.

Não é mais como antes, igual ao de todos.

Meu coração agora bate saudade, sugere amor.

Meu coração vale mais que uma flor.

Agora já não importa o dia cinza,

Se a vida é bandida, se eu choro mais.

Agora só resplandece o sorriso,

Que ilumina a tarde, a manhã e a noite.

Agora o abraço chega junto:

No inverno, com cachecol;

No verão, com sunga ou samba-canção.

Agora o beijo não é passageiro:

Mesmo na ausência, ele dura o dia inteiro.

Fica colado em mim, ainda que longe.

O beijo me morde. Passa o dia me mordendo.

Eu sentindo arrepios, dizendo não. Querendo sim.

As manhãs são frias ou quentes, do mesmo jeito.

Mas elas são de bom dia. Trazem a boa tarde,

Ao que sucede a boa noite. Toda noite. Todo dia.

É bucólico. É clichê.

Desculpem, mas o amor hoje só quer ser

Tudo isso, ou quase nada,

Ou só isso. Meu amor não é michê.

Não se vende, não se atira.

Não passa por cima, não é manada

De elefante, nem uma pulguinha saltitante.

Meu amor é completo, me complementa.

Sou um verbo transitivo indireto:

De você, para você, com você, por você.

Parece uma canção de domingo.

Parece uma oração essa poesia.

De amor.

Amém.

domingo, 14 de julho de 2013

20 centavos

Não é apenas por 20 centavos. A coxinha está mais cara, mal se pode almoçar no intervalo. O preço sobe, o ônibus para, o cobrador desce. O motorista não aparece. O pó está caro, o programa aumentou, mas o pau, esse não levantou...

Não são 20 centavos à toa. É o SUS pedindo ajuda: SOS. Os médicos cubanos vão vir pro Brasil, ajudar na crise. Não podem! Não querem! Os brasileiros vão ter que atender no postinho de saúde, na UPA, no PA, vão ter que cuidar da saúde das famílias no interior do Pará.

Não é uma briga só por 20 centavos. O tomate subiu, o vinagre explodiu, o cara não me representa. São milhões nas gavetas, nos bolsos, na íris do olho que ostenta o cifrão. Falta amor, falta barba.

Não é só por 20 centavos, é pela intolerância, pela ignorância, pela segurança do Papa, que custa mais que 20 centavos... É contra o capitalismo, que afunda as almas na exploração e no consumismo. É por tudo e por quem não tem nada. É por quem não consegue ser, mesmo existindo. É pelos invisíveis, mesmo coloridos: pretos e arco-íris, as cores do esquecimento. Só se lembram do vermelho, cor do sangue. Não o que está nas suas veias, mas o que suja as mãos. Não são apenas 20 centavos!

domingo, 7 de julho de 2013

Achados e perdidos


Eu sei tudo o que perdi
As vezes em que não te vi
Do sonho que eu desisti
Eu sei de tudo
Mas não me arrependo
Porque outra vida eu tive
Outro amor eu encontrei
Outros caminhos eu provoquei
Nadei em rios de águas turvas
Que me davam tanto prazer
De molhar a nuca, a cabeça
De escorrer a tristeza
E levar a lembrança
Embora de mim
Eu perdi tanta coisa
Mas no caminho
Outras tantas pude ter
O que agrada não é ganhar
Não quero competir
Nem amor, nem dinheiro
Nem aparência
Eu quero ver um sorriso
Que me olhe
Que me provoque
Que me tente
Que me traga
Um encontro

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