quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Que falem os hipócritas

Eu sei o que pensam, eu escuto o que falam, eu imagino o ódio que sentem. Eles se referem sempre em terceira pessoa para falar "deles", "daquelas pessoas", "daqueles uns", quando eu estou bem na frente deles, representando com toda minha humanidade o que imaginam que seja um extraterrestre, um ser diferente de todos, um ser anormal ou um não-ser. É preciso passar a vida provando ser bom para mostrar que se é normal, que se é humano, que se tem emoção, que o coração também sente, que a alma também se ressente às vezes, que os defeitos são comuns a todos nós igualmente. Eles, os hipócritas, falam de valores, falam de moral, dizem que a família está sofrendo com a pouca-vergonha, mas são eles, os hipócritas, que abandonam seus filhos, que não pagam pensão, ou, talvez pior, pagam uma pensão mas não provêm o afeto a seus filhos, que se transformam, esses sim, nos problemas sociais pela falta de amor, por não terem conhecido os valores de uma família que seus pais lhes negaram.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Sinais

Eram sinais que eu via, que eu ouvia, que a vida indicava, mas eu não sentia, recusava-me a entender ou a ver a realidade que estava diante dos meus olhos e tocando a minha pele. Eram como cheiros óbvios, mas passados sem sentir. Os sinais que a vida insistiu em me trazer, eu insisti em deixá-los de lado, vendando os fatos.

Ser

eu não sou alguém
eu não tenho nome
sou um pronome
em busca de saber
quem eu sou
indefinido
indeciso
indecifrável quem sabe
sou um sujeito
em busca do predicado
do verbo
do agir
sou tudo que você
pode não desejar
mas ainda assim
sou tudo aquilo
que eu quero ser
que eu devo ser
que eu sonho em ser
sou a vitrine
dos meus próprios
desejos
de felicidade
de completude
não sou nada
nem ninguém
se eu não puder
ser quem eu sonho
se eu não puder
sonhar em ser
quem eu quero
não corro de medo
não vivo fugindo
não vivo nas sombras
feito um vampiro

O sorriso de Monalisa

Eu e só eu sei da verdade escondida nesse sorriso de Monalisa. Do eu te amo que não era mais de verdade, era puro incômodo, pura comodidade travestida de amor. Não posso afirmar que tudo tenha sido em vão durante tanto tempo. O silêncio mascarado no sorriso de Monalisa é assustadoramente barulhento, retumbante, porque o que sempre se quis dizer com o silêncio re vela-se como um estrondo tão alto, como uma bomba destrutiva. É uma nova guerra, que atinge os sentidos, os sentimentos feridos de nós dois, é uma nova mina em que pisamos, explodindo o sonho de andarmos juntos, abrindo um buraco entre nós, acabando com nossa visão, nosso olfato, nosso paladar, nosso tato. A guerra faz isso, mata gente, acaba com os sonhos de um futuro. Mesmo essa guerra silenciosa, que leva o amor e deixa a surdez. Não nos ouvimos mais.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Era amor

Eu sabia que era amor. Desde sempre você me olhava como se me conhecesse ou como se quisesse saber mais de mim, como se o seu olhar devesse se encontrar com o meu, como se você esperasse que os nossos olhares fossem se cruzar. Esse entreolhar parecia um toque macio das nossas mãos. Foi nesse segundo que eu percebi que era amor. Não desses amores ridículos que não vão a lugar algum, mas daquele amor singular que quer percorrer todos os cantos, que vira de ponta cabeça para acontecer.

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