terça-feira, 15 de novembro de 2016

Fim de namoro

Eu acho que fiz bem em sair correndo aquele dia. Te deixei lá sozinho no parque quando começou a chover, achei que era o momento certo, que a conversa havia terminado mesmo, e que a chuva apenas selava o fim de tudo. Eu fiz bem, sim, porque não ia mais conseguir ficar naquela discussão sem sentido, não havia mais desculpas que eu pudesse dar, nem você. Ainda não crescemos como achamos que tivéssemos crescido. Ah, a maturidade para ter uma relação, nunca ao alcance. Depois daquela última briga na casa da sua mãe, logo após o almoço, antes do sorvete, eu já tinha tomado a decisão de terminar o namoro. Aquele dia foi-se embora a última gota da minha paciência, que andava junto com minha última esperança. Tudo aconteceu muito rapidamente, um excesso de grosserias que trocamos, eu sei que você não merecia ouvir tudo o que eu dissera, mas você sabe que sou estourado, que as palavras saem antes mesmo de eu filtrá-las. Sim, mais uma desculpa minha, mas você não é santo, você provocou aquilo, você me conhece, sabia que eu reagiria. Acho que você calculou toda a provocação. E nem tomamos o sorvete. E sua mãe deve me odiar por magoá-lo, por tê-lo tratado tão rudemente na frente dela! Caramba, como sou burro! Quem maltrata no namorado na frente da mãe dele? O burro esquentadinho aqui. E foi essa mesma burrice minha que deixou o namoro acabar? Devo pedir mais desculpas? Não, isso não resolve nada, né?! É mais um pouco daquela conversa mole que já te encheu, de que vou mudar, de que foi por impulso, de que eu te amo de verdade... Mais desculpas para a coleção gigantesca dos meus erros que nunca acerto, essa coleção que não tem valor algum a não ser mostrar cada vez mais o acúmulo de decepções que tenho sido para quem me ama. De toda forma, preciso pedir desculpas e dizer que nunca quis magoá-lo. Não é um clichê que estou repetindo, é a verdade, não quero te ver sofrer, nem quero eu fazê-lo sofrer mais. Sou covarde, por isso acho que fiz bem em sair correndo aquele dia no parque. Estou envergonhado, de verdade. Você sabe que sempre fui cara de pau e briguento, mas estou envergonhado. E com remorso, com uma dor dentro de mim de tê-lo deixado partir, como pude decidir antes do sorvete aquele dia que não queria mais nada com você? Meu Deus! Me encho de culpa agora, e não digo isso para me fazer de bonzinho, é arrependimento mesmo, é olhar para a vida e ver o que fiz de errado... No entanto, agora nem adianta muito essa minha lamúria, eu sei. Não adianta nada, na verdade... Olha, vamos tentar conversar de novo? Não estou pedindo pra voltar, só preciso dizer como as coisas aconteceram pra mim e me explicar, pedir perdão mesmo, precisamos zerar esse assunto. Eu sei que você está sem tempo e sem vontade de ouvir o que tenho pra te dizer, e talvez até ache que eu não tenho nada pra falar. Mas não seja radical comigo. Eu sei que terminei tudo, que o fim do namoro já aconteceu, que o machucado já fiz em você, mas preciso dessa última conversa sem fugir, sem sair correndo. Escuta, será uma conversa rápida, eu nem vou falar muita coisa, você pode dizer tudo... Eu quero seguir com a minha vida também, assim como você, por isso preciso dessa chance de terminar direito o que começamos direito, ou vai negar que nos apaixonamos lindamente desde o começo? Perdão, é o que preciso dizer. Me perdoa. Eu não sabia que te amar demais me faria esse cara inseguro, eu deveria ter confiado mais no amor que você teve por mim e ter sido um homem mais gentil, deveria ter sido menos controlador e mais livre. Eu me engano e você sempre tem razão. Eu não fiz bem em sair correndo aquele dia no parque. Eu deveria ter me acalmado, te abraçado e pedido sua ajuda, ter pedido perdão e ter dito mais uma vez que te amo. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Incertezas do inverno

Eu parei ali atrás,
em algum momento da vida
que não quero mais viver.
De lá não consegui sair ainda,
todo preso nessas amarras
que me puxam pra baixo,
que me param no tempo, no espaço.
Não sei mais como planejar uma vida,
como pensar um futuro,
já que meu agora é aquele instante passado, doído.
Não consigo preteritar esse passado,
porque ele continua insistindo no agora,
me tirando o amanhã a cada novo dia.
Não sei ao certo como devo me referir ao futuro,
mas creio que impossível seja uma boa definição.
Foto que fiz no inverno de 2013 no Caminito em Buenos Aires - Argentina

terça-feira, 5 de julho de 2016

Um gole de esperança

Céu, sol, nuvens.
A manhã é feita de oportunidades
De se ter um bom dia.
Apesar de tudo,
Apesar do nada,
Apesar do vazio,
Vamos encher o copo
E beber a vida,
Ainda que com um gole amargo,
Esperando um fim mais doce,
Porque sem esperança
Não há dia que resista.
O céu de Marília

domingo, 3 de julho de 2016

O mistério da vida

Quando chega a hora, a gente se perde de todo o caminho, a gente não sabe por onde ir, qual rumo seguir, e como será a chegada ou o retorno. As cicatrizes na estrada nos abrem a mente, nos dizem que a vida não é fácil. O tempo passa, estamos longe de todos os nossos queridos. Não há mais tempo para demorar a pensar, pois cada segundo é urgente, cada piscar de olhos é uma chance a menos, o vento mudou de direção, o que a gente decidiu? Não há tempo sequer para respirar, para ver o céu. Cada passo que a gente dá, é mais perto de algo que a gente chega, mas a distância parece nunca terminar. No escuro, não se sabe o que vem adiante, o que é isso de futuro, ninguém ensinou, ninguém voltou para dizer como terá sido. A colisão do final é para morrer ou renascer? O fim, de todo modo. A todo vapor. Qual sorriso vamos carregar na mente, do que vamos nos lembrar no caminho? Não sabemos qual carinho esperar, que abraço vai apertar, que beijo vai molhar. E se nunca mais? Do lado, nada podemos ver. Falta muito, andamos muito. Não chegamos, mesmo talvez já tendo saído do lugar. As cores borradas, continuamos correndo pra achar o lugar que deve ser o nosso, estamos sozinhos indo pra casa, ou voltando de lá. Aonde quer que a gente vá, as luzes nem sempre estarão acesas, o caminho pode ser inseguro e vamos ter que correr sozinhos, correr riscos. Ainda estamos indo, seguindo, o caminho nunca acaba. O vazio mostra nossa pele sem nenhum toque, talvez nem nosso mesmo, pois a gente não se reconhece, não se vê, estamos incompletos. O relógio anda pra frente e temos a esperança de que logo será a nossa vez de chegar. A algum lugar. A vida como um eterno ir, como o rio que corre. Vamos seguindo até perder de vista o horizonte que a gente acredita que existe.
A persistência da memória, de Salvador Dalí
Os amantes, de Rene Magritte


quinta-feira, 23 de junho de 2016

O amor além da janela

Moça na janela, de Salvador Dalí
Preciso sair

E ver além da janela.

O vento lá fora,

Meu amor me espera

Com um aconchego no abraço.

domingo, 12 de junho de 2016

Meu par

Quando o amor chegar, ele não vai bater na porta. Vai querer entrar, tomar lugar, se assentar. Quando o amor chegar, vai trazer você pra ser meu par. Quando o amor chegar, a vida será vista em outras cores, vou me esquecer das dores, parar a busca de outros amores. Quando o amor chegar, serei eternamente calmaria. Quando o amor chegar...

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Felicidade proibida

Às vezes, passam em branco
A vida, a dor.
A tristeza estanco,
Passa o amor.

Às vezes, o sorriso dado
Nem sempre é só magia.
Mas esconde o atormentado
Do coração em letargia.

Às vezes, a falta é o excesso
Do que não pode ser dito.
O tempo é expresso
E o amor, interdito.


sexta-feira, 29 de abril de 2016

Saudade nos olhos

Quem tem saudade sabe a dor que carrega quando revê uma foto, porque se lembra daquele momento, das cores, dos cheiros, dos sons, dos toques, das idéias (ainda que divergentes).

Quem carrega essa dor da saudade não esquece o que foi bom, mas quer se livrar desse peso dolorido, que dilacera a mente e faz escorrer o sofrimento pelos olhos.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Altos e baixos

Às vezes, a gente cansa.
Acorda com a cabeça
Fora da balança.
A gente tropeça,
Cambaleando feito criança.
Nas outras vezes, a gente recomeça,
Fazendo da vida uma dança
Com passos que vão desde a cabeça
Mexendo até os pés, feito criança.

domingo, 27 de março de 2016

Cinzas

Tudo é repetição, é dizer de novo, é reviver no fogo da vida, virar cinzas.

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