A janelinha existe. Ela é a forma como nós vemos o mundo como um todo, olhando ao redor, vendo diferenças, paisagens, mas tristezas também, infelizmente. A janelinha é o modo de vermos além de nós mesmos, a forma de termos a percepção do coletivo.
O espelho existe também. Mas, ao contrário da janelinha, ele é a forma como nos vemos a nós mesmos, já que quando olhamos nele, vemos nossa própria imagem, nada além disso. Pelo espelho temos a percepção apenas do individual, do eu no seu maior egoísmo.
Às vezes, quando estamos com uma pessoa que se parece muito conosco, temos a impressão de estarmos nos olhando nesse espelho, já que não vemos uma pessoa muito diferente de nós mesmos, embora ninguém seja igual a ninguém.
Quando nos encontramos com alguém diferente , seja em que âmbito for essa diferença, então estamos diante da janelinha, e temos a possibilidade de ver o novo, o diferente, tudo aquilo que diz respeito ao que não controlamos, vemos aquilo que existe e, como apenas observadores dessa janelinha, temos de tentar entender e aceitar as diferenças, não julgar nem repreender, porque, do mesmo modo como nós, os outros também têm sua janelinha e seu espelho, e assim como alguém pode parecer-nos "diferente", é importante lembrar que também fazemos parte da janelinha de alguém, que também pode nos julgar pela nossa "diferença", e, convenhamos, ser julgado por não ser igual não é uma situação nada interessante.
O que acontece, muitas vezes, é que nos recusamos a abrir nossa janelinha e a enxergar o próximo, tornando-nos narcisistas e egoístas, como se andássemos com o espelho pendurado em nossa frente o tempo todo. Isso é ruim. Vivemos em grupo, somos coletivos, e a arrogância e o egoísmo que tomam conta das pessoas às vezes mostram não apenas uma falta de evolução, mas também uma regressão.
É uma pena ainda existirem pessoas que só saibam olhar no espelho, que só tenham olhos para si.
Pense, reflita.
Você já abriu sua janelinha hoje?
(Escrevi este texto em 2006)