domingo, 20 de dezembro de 2015

Através da janela, além do ego

foto que fiz em Salvador em outubro/2015, subindo a escada do Farol da Barra

O que é se que se vê da janela? O futuro ou o passado? O agora sendo vivido? Ou o amanhã prometido? É tempo de deixarmos o espelho de lado e começarmos a ver pela janela, é tempo de olharmos para além de nós mesmos.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Solidão

foto que fiz no Guarujá em 2013
Um dia triste. Tanta beleza estranha, tantos sozinhos querendo participar. Veja a árvore no meio da praia, sozinha, e junto com todo mundo; isolada e integrada à natureza. Como nós mesmos na humanidade, sozinhos e juntos com todo mundo.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Tristeza

Foto que fiz em Salvador em outubro/15
Chorar pra quê? Pra sentir mais emoção, sentir pulsando tudo dentro da gente, com arrependimentos: o que fiz da minha vida? Não consigo dizer, não tenho toda clareza pra ver, mas sei que deixei escapar a felicidade. Como recuperar o tempo perdido, o amor atropelado? Como pedir perdão pelo tropeço? Como saber se é hora de recomeçar? Não sei as respostas. O amanhã dirá o que o hoje não consegui resolver, mas e se for muito tarde? A felicidade tem tempo certo? A chance é só essa? E se for o último pôr do sol que eu vejo? Se eu perder o próximo horizonte? A vida não me responde...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Clichês

Disseram que o amor é amor, simplesmente.
Que basta deixar acontecer, tudo se acerta com o tempo.
Que a gente vai se conhecendo e aceitando o outro.
Que essa paixão louca é muito boa, que o coração dispara.
Que isso é sentir-se vivo.
Disseram que o amor cura.
Mas disseram que quando o amor acaba a vida continua.
Que um novo sol vai raiar amanhã.
Que a tristeza passa.
Que não era hora, que outra pessoa vai aparecer.
Que o mundo dá voltas.
Disseram que o tempo cura a dor do amor.
São muitos clichês que disseram.
Em meio a tantos conceitos,
A tantos conselhos.
Eu mesmo ainda não sei
Exatamente o que é o amor.



quarta-feira, 22 de julho de 2015

Escondido?

O que há de novo
Novidade
O que é novo
Não dá saudade?
Ou o que há de antigo
Antiguidade
O que é antigo
Esconde a verdade?

terça-feira, 21 de julho de 2015

Última chance

Sabe o malandro
Que diz que te ama
Mas sempre foge,
Que você pensa que te engana?
Sabe o malandro
Que te deixa os sentidos aguçados
Que tem tanto mel,
Parece que lábios açucarados?
Sabe o malandro
De quem você tenta correr?
Beija logo, minha filha,
Pra esse você também não perder...

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Olho gordo

Tirou da cara um risco de tristeza.
Sorrindo feliz pro espelho,
Para si.
Que alegria de se ver nu,
Sem roupas, nem personagens.
Que plenitude de respirar
Sem nada apertando,
Nem o olho alheio,
Que devora a vida
De todo mundo.


Contas vencidas

Qual o limite que te dão
Dizendo que teu corpo não é teu
Que tua alma foi vendida
Que teus dias são detestáveis?
Qual o limite que te dão
Além do cartão de crédito?
Sua fatura está vencida.

Sem chance

Feito um leão quando caça, o mundo devora meus dias, engole minhas noites e rasga toda minha esperança de... (tarde demais)
foto da internet

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Rascunho da semana

Se esqueça da minha alegria, do meu beijo
De voltar atrás no olhar, na decisão
Se esqueça do meu abraço, não tem jeito
Acabou o amor, houve uma cisão.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sonhando um desejo

Há uma falta de mim,
Um excesso de mim,
Um alguma-coisa-que-não-sei-o-que.
E eu vivo sem saber.
Respiro sem perceber.
Eu ando e não vejo o amanhecer,
Não dá tempo, nem se eu correr.
Porque o sonho é intenso,
Não me deixa levantar
Nem a cabeça.
O mundo é imenso
E não consigo alcançar
Nem encaixar nenhuma peça
Do quebra-cabeça
Desse olhar pro nada
Que sai de mim,
Que sobra, que falta.
O dia não se resolve
Nem no fim.
Moça na Janela, de Salvador Dali

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O ralo



Vivia com um pavor em sua alma. Mal tomava banho, mal chegava perto da pia – do banheiro, da cozinha. Aquele monstro por onde escorria a água constituía-se como seu pesadelo atordoante, pior do que subir na roda gigante. Um redemoinho redesenhado para sua casa, para sua vida. Tudo se desfazia ali naquele instante final, a última gota de vida restante em qualquer ser se acabava naquele exato lugar. Se fechasse o olho, imaginaria o que estaria por vir e entraria em desespero. Se colocasse uma tampa, acreditava que a força da sucção seria mais forte que todas as forças que ele trazia consigo. De tudo no mundo que poderia assustá-lo, era o ralo seu maior medo, seu pior inimigo, porque o ralo seria seu fim inevitável.

Considerava o ralo o escoar de toda vida, de toda morte, de todo mundo. Se morto, enterrado, haveria algum ralo sob o solo que o levaria, aos pedaços, para o cumprimento do destino cruel. Se nadasse no mar, as águas formariam um grande redemoinho, forjariam um ralo para seu fim. Se voasse em um avião, o vento traria um grande furacão que o levaria dali. Era isso, era um fato, um destino. Se tomasse banho, aos poucos teria sua vida levada para o submundo do ralo, sua vida escorreria com a água em redemoinho que certamente se formaria. Recusava-se a dar um pouco de si a cada instante em que, ilusoriamente, pensava estar se limpando. Nessa circunstância, tomar banho não era se limpar. Lavar as mãos na pia não era se limpar. Era oferecer-se ao fim da vida, à escuridão do ralo. Esse medo ninguém lhe tirava.

O ralo era seu fim, o de todos nós, acreditava, amedrontado, amontoado no canto do banheiro, oposto ao canto do ralo, onde vagarosamente começou a cochilar, a se entregar a um sono sem fim. Ao passo em que dormia, sentia-se atraído, arrastado para o outro lado, como se fizesse uma viagem ao inferno, onde se recusava permanecer.

Num sono mais que profundo, ia sentindo a água que o afogava, deixando-o desesperado. Quando enfim conseguiu abrir os olhos e recobrar seus sentidos, ouvia vozes como que risos zombando de si. O ralo, repetia aos gritos desesperados, o ralo...

Quando abriu bem os olhos, deu-se conta de que estava em casa, debaixo do chuveiro, de bermuda, e que seus irmãos o vigiavam. Jurou para todos que era o fim que se aproximava, mas como o fim do mundo tão trágico só acontece em filmes, ninguém acreditou no que ele tinha vivenciado.


*Conto selecionado na fase municipal do Mapa Cultural Paulista 2015/2016

Suicídio

No frio do dia, numa chuva se perdia.
De todos os desejos, só tinha os que não podia.
Vivia a ingratidão dos tempos
sem se acostumar com tantos ventos.

Era muita direção soprando,
Sua vida parecia sempre afundando.
Eram encontros inesperados,
sonhos não vividos, tormentos desesperados.

Tinha um café para acordar
e uma piscada pra recomeçar,
mas surtava sem saber
como a vida deveria ser.

Estúpido, fingia ter razão.
Era cego, à frente não via nada, não.
Prostrava-se diante da cruz,
punha-se a rezar: a ti eu peço: me salve, Jesus.

Do sol só via o fogo que queimava.
Não recebia luz, só a dissipava.
Seu caminho era falho e era feio,
mas não se esforçava por um amor cheio.

Nem querendo mais sonhava,
e todo resto ele odiava.
Sem ter a quem recorrer,
resolveu então se perder.

Sem saber da vida o mistério,
deu-se um tiro. Cemitério.

*Poesia selecionada na fase municipal do Mapa Cultural Paulista 2015/2016

domingo, 31 de maio de 2015

Pedaços da gente

Meu coração, grande coração, que se desfaz em pedaços, pequenos, grandes pedaços lançados ao som da mais triste música, direcionados a cada canto da casa. Esses pedacinhos são feitos não das nuvens do céu, do algodão doce das crianças, são pedaços mais para cacos de memórias de sofrimentos. Porque os pedacinhos de alegria ainda continuam juntos, montados em seu lugar. Mas as tristezas, recordadas em seus trechos da vida, essas estão cada vez mais espalhadas, de difícil que são de se superar – inalcançáveis.
Era com esse pensamento de menina magoada pelo namoradinho da escola que começava a rascunhar numa folha de papel a mistura de sentimentos que perturbava sua vida nos últimos tempos. Com uma tristeza no sorriso que não saía do esboço, não parava de imaginar quando teria a chance de superar essa fase das desilusões. Mal sabia que desiludir-se era uma constante na vida de todos nós.
Diferente daquele dia, esperava que os próximos viessem acompanhados de menos sofrimento e de mais alegria, mas não tinha claro como seria uma vida cheia de felicidade. Sequer sabia se era possível ser feliz o tempo todo. Entretanto, sonhar era o possível. Nenhuma menina de sua idade deveria sofrer tanto como ela sofria, imaginava. Toda a dor das tristezas carregadas em uma só pessoa, como se fosse a grande responsável por toda tragédia diária que acometia a vida de todos.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Cacos no caminho

Passei a vida tentando recolher os cacos do caminho, que cortavam meus pés e me impediam de continuar seguindo o rumo. Nem mesmo meu coração consegui alcançar, de tantos cacos que encontrei pela andança; não, meu coração não fica em mim, fica onde quero estar, por isso vivo correndo atrás dos momentos que me encontro com ele, mas quando não chego perto, me dá um aperto no peito e perco o equilíbrio. E continuo lutando, vivendo e buscando, porque meu coração está fora de mim, e sei que o dia pode terminar sem que eu o encontre. Nem por isso posso parar de andar, e esses cacos, como vou pisar? Preciso dessa dor porque não há solução outra. Resolvi parar de recolher os cacos do caminho, quero sentir o sangue escorrer e saber que, mesmo sem estar perto do meu coração, eu ainda estou vivo, porque viver é também chorar e ficar triste; o amanhã será diferente, pois brigo com o mundo e chego ao meu coração. Uma hora dá certo.

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