quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um conto tenso

Dia tenso naquele escritório cheio de rotinas. Todos trabalhando, concentrados. Vez por outra um motivo de risada, discreta.

Pausa para um café: vão à padoca... Sentam-se em uma mesa, pedem um café e proseiam. Enquanto isso, entram na padoca dois amigos negros, que são bem atendidos. Pedem algo para levar e logo se vão, após pagar a conta.

Aquele grupinho de amigos do escritório logo se põe a falar dos amigos que se vão:

-Já reparou que quando um branco chama um negro de negão ele é racista, mas quando um negro chama uma branca de branquela ou um loiro de alemão, aí pode?

-É mesmo. No fundo, isso é porque os negros tem preconceito contra eles mesmos. Eles não se aceitam!
Aí vieram os causos. Um disse:

-Meu primo chama todo mundo de negão, e um dia ele falou pra um cara isso e o rapaz foi tirar satisfação, ao que o meu primo disse baixinho no ouvido dele: você é um preto safado e fedido mesmo! - E ele continuou: meu primo disse isso e o cara afinou e foi embora de cabeça baixa.

O outro concordou com isso e assumiu:

-Sou racista mesmo e falo que sou - ao que outro concordou com a teoria do preconceito que os negros reclamam, e os branquelos não se ofendem por serem branquelos ou alemães...

Um deles falou sobre um caso que o professor dele contou na aula:

-Um cara, de calça larga, boné de skatista, etc. foi conhecer a família da namorada, rica... Quando o pai viu "quem" era o rapaz, quando a filha saiu da sala, o pai falou: 'você tem 5 minutos pra sumir da minha frente!'.
O pessoal concordou com isso, dizendo que o cara deveria ter se vestido melhor pra se apresentar à família da namorada. Um deles discordava dessa forma de pensar, porque o cara tinha uma vida em determinada comunidade e que aquela era a forma dele se vestir. Foi "massacrado" verbalmente pelos amigos, que disseram que o cara tinha que saber se vestir. Ele repetiu que aquela era a forma dele se vestir e ouviu:

-Então ele que procurasse outra pessoa pra namorar, da comunidade dele...

E o que tentava desfazer essa situação respondeu:

-Então você está propondo a separação do mundo entre os ricos e os pobres! - Ao que ouviu:

-Não é separação, é que os ricos precisam dos pobres e os pobres, dos ricos; tem que haver um equilíbrio que tem que ser mantido...

Ele disse que discordava dessa forma de pensar e se recolheu.

Bom, esse era o nível das conversas por lá. E o politizado estava ilhado...

Um dos caras disse que tinha essas discussões nas aulas de sociologia da facul que ele começara e que ele respeitava a formação do professor, mas que ele tem suas opiniões formadas e que ninguém iria mudar isso, que ele tinha os preconceitos dele, que todo mundo teria lá no fundo preconceito etc. Disse que respeitava os negros, os gays, as lésbicas, e que isso não interfere em nada (desde que não façam nada pra ele!).

---
Enfim, esses são alguns dos brancos católicos com quem convivemos...
Quanto amor de Cristo no coração de todos. Aleluia! Amém! Pro Brasil seguir separando: "eles" lá, e "nós" aqui! Amém!
E eles batem no peito que são religiosos, devotos, que agradecem todos os dias pelas graças que tem. Esquecem-se de amar ao próximo como a si mesmos. Esquecem-se do que o padre diz toda missa: O amor de Cristo nos uniu...
Esse meu comentário é sobre alguns hipócritas religiosos. Não vale pra quem não se enquadra nesse perfil.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma poesia de Octavio Paz

Octavio Paz surge en el escenario artístico como el renovador artístico de su época, mezclando en su obra el Surrealismo, y por consiguiente el onírico, el Existencialismo, y por consiguiente la discusión acerca de la vida humana.
CONVERSAR
Árbol adentro (1976-1987)

En un poema leo:
conversar es divino.
Pero los dioses no hablan:
hacen, deshacen mundos
mientras los hombres hablan.
Los dioses, sin palabras,
juegan juegos terribles.

El espíritu baja
y desata las lenguas
pero no habla palabras:
habla lumbre. El lenguaje,
por el dios encendido,
es una profecía
de llamas y un desplome
de sílabas quemadas:
ceniza sin sentido.

La palabra del hombre
es hija de la muerte.
Hablamos porque somos
mortales: las palabras
no son signos, son siglos.
Al decir lo que dicen
los nombres que decimos
dicen tiempo: nos dicen,
Somos nombres del tiempo.
Conversar es humano.
 
Derramaré Mí Espíritu Santo sobre todo el pueblo, y vuestros hijos e hijas profetizarán” (Actos de los Apóstolos,  2:17)
 

CONVERSAR

Tradução de Antonio Moura



Em um poema leio:
Conversar é divino.
Mas os deuses não falam:
fazem, desfazem mundos
enquanto os homens falam.
Os deuses, sem palavras,
jogam jogos terríveis.

O espírito baixa
e desata as línguas
mas não diz palavra:
diz luz. A linguagem
pelo deus acesa,
é uma profecia
de chamas e um desplume
de sílabas queimadas:
cinza sem sentido.

A palavra do homem
é filha da morte.
Falamos porque somos
mortais: as palavras
não são signos, são anos.
Ao dizer o que dizem
os nomes que dizemos
dizem tempo: nos dizem,
somos nomes do tempo.
Conversar é humano.

En esta poesía se percibe la tensión entre la tierra y el cielo, la instabilidad, la búsqueda por el sentido de la existencia.
El poeta empieza diciendo que “conversar es divino”, porque atribuye a los dioses la posibilidad que el hombre tiene de hablar con el otro. A los dioses les son dadas las responsabilidades por el poder conversar del hombre.
En la estrofa siguiente hay referencia a la parte bíblica. El poeta describe el momento en que el espíritu baja y hace con que los hombres de distintos idiomas se comprendan.
Derramaré Mí Espíritu Santo sobre todo el pueblo, y vuestros hijos e hijas profetizarán” (Actos de los Apóstolos,  2:17)
             En la última estrofa, Paz discute sobre la mortalidad del hombre frente los dioses. El poema dice que los hombres necesitan a la palabra para comunicarse, mientras los dioses no. En esta estrofa, Paz reafirma la intertextualidad con la Biblia, cuando la poesía dice que La palabra del hombre / es hija de la muerte significa que sólo después de la muerte de Jesucristo que él prometió enviarles a los hombres de la tierra el espíritu santo que les salvarían. Por lo tanto, la palabra del hombre es hija de la muerte de Jesús.
            Como los dioses no necesitan a las palabras, la poesía termina diciendo que Conversar es humano. Entonces,  si en el principio conversar es divino porque los  dioses se les dan eso a los hombres, en el fin conversar es humano porque sólo el hombre lo necesita.
             Hay también la posibilidad del análisis de la palabra como dádiva que Dios da a los hombres, y como el poeta la utiliza en su creación artística, sus versos son sagrados. Si “las palabras / no son signos, son siglos” y “los nombres que decimos / dicen tiempo”, entonces las palabras escriben la historia de los hombres, más que eso, “nos dicen”, escriben el propio hombre.
            Si “somos nombres del tiempo”, es tiempo (la Historia) que determina cuales nombres serán recordados.
            Podemos analizar, incluso, la cuestión de la linguística, por la cual el hombre se utiliza de la lengua para comunicarse, o sea, la lengua es que nombra las cosas tanto del mundo natural como del abstracto. 

domingo, 21 de novembro de 2010

Uma poesia pela liberdade de se poder ser quem é

 Em meio a tanta violência, como esta

Delegado: militares confessaram que homofobia motivou ataque contra jovem baleado após Parada Gay

 esta

Estudante de Direito é vítima de racismo na PUC de São Paulo



esta

Jornalista da RBS: “Hoje qualquer miserável pode ter um carro”

esta

Em ataque homofóbico no DF, jovens tentam agredir gay e amassam carro aos chutes

e esta

Jovens, covardes e homofóbicos: Quem são os acusados de espancar quatro rapazes na capital paulista só porque achavam que eles fossem gays


não se pode fingir que nada acontece, que a culpa é dos negros e dos LGBT que estão a ocupar espaços que já tem donos.

Segue uma poesia do Livro Leaves of Grass, de Walt Whitman, traduzida por Bruno Gambarotto em sua dissertação de mestrado:

Não podemos ficar vivendo de mártires, de representantes da violência cotidiana, como se fosse algo normal, aceitável, tolerável. O poder público tem o dever de garantir a segurança das pessoas, tem a obrigação de garantir que todos sejam respeitados. Por isso a necessidade de aprovação de legislação de criminaliza o preconceito homofóbico, assim como ocorre com o racismo. A poesia acima do Whitman retrata a formação da sociedade norte-americana, mas podemos trazer à nossa realidade a luta pela liberdade. Pela liberdade da individualidade. Pela liberdade de se poder ser quem é. Respeitando e sendo respeitado.

"Não há uma cova dos assassinados pela liberdade em que não cresça a semente da liberdade"



Um conto do Marcelino Freire AQUI

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O amor supera tudo?


Imagine Kafka inteiramente nu e com asas, quase que o David (de Michelangelo) alado. Seria o início de uma linda história. Imagine-o de braços abertos, atormentado por lembranças traumáticas e na beira de um precipício, ou algo do tipo.

Imagine Kafka um jovem de 26 anos que tem que trabalhar muito para se sustentar e para ajudar a mãe doente. Pense, mais ainda, que, para ter tanta disposição e ficar tanto tempo acordado e com ânimo para aguentar a dura carga horária de trabalho, ele se valha de drogas - especialmente a anfetamina.
Crie em sua mente uma situação: Kafka trabalha como professor de natação; no vestiário do clube, recebe dinheiro para deixar ser visto masturbando-se (ele estaria se prostituindo?). Ele também trabalha como entregador de comida em outro turno.

Além do trabalho, Kafka estuda inglês e pratica kung-fu.

Kafka é um homem solitário e carente. Terminou com sua namorada há pouco, sua mãe está doente e não tem tanta simpatia por seu irmão.

Ele conhece o também jovem Daniel, um homem de negócios, com dinheiro, recém-chegado da Austrália. Primeiro, eles se esbarram na noite em que Kafka terminara com a namorada. Em outro dia, encontraram-se em um templo, enquanto rezam, a partir de quando suas vidas, ao que parece, estariam definitivamente entrelaçadas para sempre.

Sentados sob uma ponte quebrada, à espera de reparos que a permita ser uma ligação entre duas partes da cidade novamente, Daniel diz:

-Você é diferente quando sorri. - tentando beijar Kafka, que se esquiva dizendo: 
-Não consigo aceitar isso ainda, desculpe. 
-Desculpe, pensei que você... - completou Daniel, constrangido. 
-Você viu minha namorada no bar aquele dia. No entanto... - retrucou Kafka. 
-Está tudo bem. Já namorei meninas antes. - tentou minimizar Daniel 
-Ah, certo. - divagou Kafka 
-Talvez, quando a ponte estiver unida, nós também estejamos. Moleza. - desejou Daniel 
-Dê-me um pouco de tempo. - pediu Kafka


A história continua e, ao acordar assutado enquanto dormem juntos, Kafka corre para o banheiro, trancando-se, gritando.

-Você está bem? - pergunta Daniel
-Não ficaremos bem. - responde Kafka, de cócoras no chuveiro. - Eu não sou capaz de te satisfazer.
-Você quer dizer sexualmente? - questiona Daniel
-Não posso transar com homens. Não sou certo para você. Não sou gay! - grita Kafka, ainda de cócores sob as águas.

-Eu pensei que você me amava. - diz Daniel, ao que responde Kafka:
-Talvez seja outro tipo de amor. Eu perdi meu pai, meu irmão é um babaca...
-E daí? - indaga Daniel
-Por que você não me entende? O que você vê em mim? - insiste Kafka - Não tenho dinheiro, educação, atração e nem futuro. Para você, sou até impotente!
-Isso é o que as mulheres querem, não me importo com essas coisas. Gosto da sua beleza, e de você ser engraçado e saber lutar. Hétero, masculino e ousando fazer qualquer coisa comigo. (...) Na verdade, já que é a primeira vez que te vejo chorar, decidi que vou ficar com você para sempre, não deixar ninguém te machucar. - desabafa Daniel.

Kafka passa a mão no rosto, na tentativa impossível de enxugar as lágrimas que se confundem com a água que cai do chuveiro. Levanta-se. Todo molhado, abre a porta para Daniel, abraçando-o.

É perceptível a diferença entre eles, porque no meio dessa discussão, Daniel, na maior parte do tempo, fala inglês, equanto Kafka, cantonês: ou seja, para além das diferenças de orientação sexual, eles mal conseguiram superar a dificuldade linguística. Na verdade, Daniel fala cantonês; Kafka é quem desliza no inglês. Mas isso se mostra superável.

O amor supera tudo?

Imagine se essa história fosse um filme...

Não há como se livrar de um amor predestinado

Anfetamina (Amphetamine) é um lindo filme chinês. Tão sensível que chega a causar arrepios em algumas cenas, de tanto drama, de tanta emoção, de tanta possibilidade.

Com: Byron Pang como Kafka e Thomas Price como Daniel
Roteiro e direção de: Scud

Trailer AQUI

Dedico este post à minha sempre amiga Daniela, por ser uma mulher tão sensível, tão apaixonante, tão apaixonada e tão sincera. A você, Dani, todo meu carinho e minha sincera amizade.

Páginas