Na correnteza da chuva, corria a
tristeza de tudo que se perdia naquelas águas turvas e tortas. A chuva levava
tudo embora, a paz, a alegria, o samba que ia surgindo no quintal, a roupa que
secava no varal, a mochila das crianças que acabaram de chegar da escola, e as
meias que estavam a secar no muro, que dividia não apenas os vizinhos, mas que
compartilhava a segurança a que se propunha. E segurar as águas da chuva não
era a obrigação daqueles tijolos sobrepostos. Águas para conter? Não era essa a
função do muro. Ele segurava o que lhe cabia, mas não podia salvar vidas contra
a correnteza que invadira todas aquelas vidas.
Às vezes o coração tem dessas
coisas, nos deixa desprotegidos das correntezas inesperadas.
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