domingo, 8 de abril de 2012

Porta aberta


O portão estava aberto. O portão do prédio estava aberto. E eu entrei. E eu fechei o portão quando entrei. Suava frio, um tanto nervoso, com medo, ansioso. Subi as escadas. Térreo. Um lance de escadas. Primeiro andar. Pensei que seria mais pra cima. Segundo lance de escadas. Segundo andar. Acho que falta mais um pouco. Terceiro andar. A porta estava aberta, nem pude confirmar o número do apartamento. A luz acesa e a porta aberta. Deveria ser ali. Bati na porta. Chamei. “Entra”, veio em resposta. Fechei a porta. Tranquei a porta, porque essa não podia ficar aberta mais. Abrira-se para mim, mais ninguém. Naquela noite. Não sabia bem o que esperar, como dizer oi, sei lá. Demos as mãos, e ganhei um selinho: “Oi”. Fascinei. Conversamos, falamos da vida, dos dias, das noites. Do sono, da falta de dormir. Das conquistas mais recentes, das histórias mais tristes, dos abandonos e das carências. Falamos de nós, ouvi mais. Havia algo diferente naquilo. Pensemos. Portão aberto. Porta aberta. Beijo como oi. Era só chegar. Bastaria estar lá que tudo aconteceria. Parecia. O mundo fluía. E se eu voltasse lá outro dia e não fosse mais o mesmo lugar, a mesma pessoa, a mesma porta? Se fosse para fluir, tudo seria diferente. Não. Eu não voltaria depois. Eu participaria desse fluir de rio, eu estaria no rio, não voltaria para vê-lo depois. Pronto. Era isso mesmo. Me agarrei em seus cabelos e nadei, não me afoguei. Sigo até agora os caminhos que suas águas comandam. Espero não chegar a destino algum ainda, continuar nesse nadar contigo me segurando, me protegendo, me comandando. Águas que se parecem turvas às vezes, que se agitam tanto outras vezes. Águas que lavam as tristezas, que me tiram das profundezas da solidão. Águas que ameaçam me afogar, parece, só para terem o prazer de me salvar... Águas que desaguam no mar, mas o mar é tão imenso, que nem sei se quero chegar lá. Posso me perder de você, encontrar a porta fechada e não te ter mais para abri-la.

"me agarrei em seus cabelos, sua boa quente pra não me afogar... tua língua correnteza, lambe minhas pernas como faz o mar... eu que não sei quase nada do mar, descobri que não sei nada de mim"

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