terça-feira, 2 de novembro de 2010

O amor supera tudo?


Imagine Kafka inteiramente nu e com asas, quase que o David (de Michelangelo) alado. Seria o início de uma linda história. Imagine-o de braços abertos, atormentado por lembranças traumáticas e na beira de um precipício, ou algo do tipo.

Imagine Kafka um jovem de 26 anos que tem que trabalhar muito para se sustentar e para ajudar a mãe doente. Pense, mais ainda, que, para ter tanta disposição e ficar tanto tempo acordado e com ânimo para aguentar a dura carga horária de trabalho, ele se valha de drogas - especialmente a anfetamina.
Crie em sua mente uma situação: Kafka trabalha como professor de natação; no vestiário do clube, recebe dinheiro para deixar ser visto masturbando-se (ele estaria se prostituindo?). Ele também trabalha como entregador de comida em outro turno.

Além do trabalho, Kafka estuda inglês e pratica kung-fu.

Kafka é um homem solitário e carente. Terminou com sua namorada há pouco, sua mãe está doente e não tem tanta simpatia por seu irmão.

Ele conhece o também jovem Daniel, um homem de negócios, com dinheiro, recém-chegado da Austrália. Primeiro, eles se esbarram na noite em que Kafka terminara com a namorada. Em outro dia, encontraram-se em um templo, enquanto rezam, a partir de quando suas vidas, ao que parece, estariam definitivamente entrelaçadas para sempre.

Sentados sob uma ponte quebrada, à espera de reparos que a permita ser uma ligação entre duas partes da cidade novamente, Daniel diz:

-Você é diferente quando sorri. - tentando beijar Kafka, que se esquiva dizendo: 
-Não consigo aceitar isso ainda, desculpe. 
-Desculpe, pensei que você... - completou Daniel, constrangido. 
-Você viu minha namorada no bar aquele dia. No entanto... - retrucou Kafka. 
-Está tudo bem. Já namorei meninas antes. - tentou minimizar Daniel 
-Ah, certo. - divagou Kafka 
-Talvez, quando a ponte estiver unida, nós também estejamos. Moleza. - desejou Daniel 
-Dê-me um pouco de tempo. - pediu Kafka


A história continua e, ao acordar assutado enquanto dormem juntos, Kafka corre para o banheiro, trancando-se, gritando.

-Você está bem? - pergunta Daniel
-Não ficaremos bem. - responde Kafka, de cócoras no chuveiro. - Eu não sou capaz de te satisfazer.
-Você quer dizer sexualmente? - questiona Daniel
-Não posso transar com homens. Não sou certo para você. Não sou gay! - grita Kafka, ainda de cócores sob as águas.

-Eu pensei que você me amava. - diz Daniel, ao que responde Kafka:
-Talvez seja outro tipo de amor. Eu perdi meu pai, meu irmão é um babaca...
-E daí? - indaga Daniel
-Por que você não me entende? O que você vê em mim? - insiste Kafka - Não tenho dinheiro, educação, atração e nem futuro. Para você, sou até impotente!
-Isso é o que as mulheres querem, não me importo com essas coisas. Gosto da sua beleza, e de você ser engraçado e saber lutar. Hétero, masculino e ousando fazer qualquer coisa comigo. (...) Na verdade, já que é a primeira vez que te vejo chorar, decidi que vou ficar com você para sempre, não deixar ninguém te machucar. - desabafa Daniel.

Kafka passa a mão no rosto, na tentativa impossível de enxugar as lágrimas que se confundem com a água que cai do chuveiro. Levanta-se. Todo molhado, abre a porta para Daniel, abraçando-o.

É perceptível a diferença entre eles, porque no meio dessa discussão, Daniel, na maior parte do tempo, fala inglês, equanto Kafka, cantonês: ou seja, para além das diferenças de orientação sexual, eles mal conseguiram superar a dificuldade linguística. Na verdade, Daniel fala cantonês; Kafka é quem desliza no inglês. Mas isso se mostra superável.

O amor supera tudo?

Imagine se essa história fosse um filme...

Não há como se livrar de um amor predestinado

Anfetamina (Amphetamine) é um lindo filme chinês. Tão sensível que chega a causar arrepios em algumas cenas, de tanto drama, de tanta emoção, de tanta possibilidade.

Com: Byron Pang como Kafka e Thomas Price como Daniel
Roteiro e direção de: Scud

Trailer AQUI

Dedico este post à minha sempre amiga Daniela, por ser uma mulher tão sensível, tão apaixonante, tão apaixonada e tão sincera. A você, Dani, todo meu carinho e minha sincera amizade.

6 comentários:

  1. Lindo texto e merecida homenagem a Dani. Minha conclusão sobre a leitura? O amor supera tudo.

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  2. Lindo texto Will! Fiquei interessada em assistir ao filme. Tem em alguma locadora aqui ou vc pegou da net?
    Bjos

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  3. Moabe e Ju: obrigado pela leitura.
    Ju, eu peguei o filme na net, nem sei se teria em alguma locadora por aqui...

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  4. Este texto me emocionou de um tanto...q até agora tô relendo-o. Sentimentos confusos, não aceitação, sensação diante de estar perdida diante do amor. Vc descreveu perfeitamente alguns trechos do filme. Tô com uma vontade tremenda de ve_lo. Queria assistir contigo, topa? q tal uma sessão pipoca? rs
    "-Eu pensei que você me amava. - diz Daniel, ao que responde Kafka:" Quantas vezes não pensamos isso...e qdo vezes não temos a mesma atitude de engar o amor. E na maioria das vezes nos esquecemos q o tempo não volta mais...
    Eu adoro vc! E o q vc é...
    Obrigada pela homenagem...tá precisando me sentir amada assim. Obrigada! Te amo

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  5. Oi, Will!

    Demoro mais não falho! ^__^"

    Lindo texto, me fez ficar muito na vontade de assistir ao filme. Por sinal, de uma certa forma me lembrou a primeira história do filme "Desejos Proibidos", que sempre me faz chorar diga-se de passagem.

    Seu blog tá entre os favoritos agora! ^_~

    Beijos!

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  6. Achei super linda a historia, alias desde a primeira vez que você me falou sobre o filme eu me interessei mas ainda não consegui baixar =/

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